A propaganda é a alma do negócio

Ao tomar cerveja, poderá até vencer, como se fosse Brown. Um político comunista recebe apoio financeiro de cervejaria. Estudar? Quarta-feira é o meio da semana. Dia de cerveja, segundo a propaganda brasileira. Mulheres espancadas que adentram hospitais e delegacias, lares destruídos, calçadas e sarjetas, isso não vale para a propaganda. Mas ela é a alma do negócio.
Cerveja é apenas bebida alcoólica. Nada mais que isso. Fornece prazer? Claro que sim. O álcool é assim, causa euforia, e também depressão. Mas ninguém nega o prazer. A questão é que muita gente bebe além do que deve. Educação?
Tem quem vá a uma festa famosa de cerveja, vê gente vomitando na beira dos caminhos e não mais volta.Todo combate a qualquer espécie de vício não pode deixar de lado a questão do prazer. É assim com o cigarro, com o sexo (Não enquanto vício, mas enquanto prevenção de doenças), com o álcool. Mas o que ocorre é que o prazer não pode estar associado a elementos que nada têm a ver com a coisa. A inteligência publicitária associou a cerveja ao sucesso com mulheres, que se transformaram em objetos de posse, e freqüentemente são idiotizadas nas propagandas. Mulheres, carros, conquistas, isso nada tem a ver com o álcool.
Tem quem tomava cerveja pela boa conversa, para falar de poesia, para descansar a alma após um dia intransitável. Tomava cerveja apenas para que o coração vivesse um momento de alegria.
No início do século passado, a bebida mostrou em sua propaganda a mãe com o menino loiro próximo ao seio. Ela lhe oferecia uma jarra de cerveja. Mostrou também um bispo indicando a bebida. E senhoras elegantes tomando guaraná, e mulheres do teatro consumindo cerveja. E também adolescentes nas ruas. A propaganda quase sempre enveredou pelo hábito de ser politicamente incorreta.
No final do século XX, a novidade foi o artista popular, o sambista, o pagodeiro, a cantora que vende milhões de CDS: são as imagens estelares que ajudam a vender a bebida.

Viver só da arte é muito pouco, e cheque milionário é sempre bem - vindo. Os fãs, que se danem. O importante é que a bebida aumente a sua venda e que o patrimônio financeiro do artista cresça cada vez mais.
Não se chegou ao descabimento de se mostrar atletas e esportistas consumindo cerveja, mas os artistas sim. Esse que deveria encantar a alma do cidadão apenas com arte, o incentiva a beber e beber e beber.
Cresceu o consumo de álcool entre adolescente. Entre as mulheres também. Tem pesquisa que andou mostrando isso. Povo que bebe é mais feliz, poderiam dizer. A educação deveria vir primeiro. A leitura, o livro, o acesso à cultura. Nada causa mais prazer do que o conhecimento, nem o álcool. E mulher não se conquista apenas com bafo de cerveja.
Por: MARCIANO VASQUES
Fonte:http://www.artigonal.com/literatura-artigos/a-propaganda-e-a-alma-do-negocio-1082934.html